quarta-feira, 13 de maio de 2009

De pai pra filha


Pare tudo o que estiver fazendo agora, e se pergunte: "O que eu estava fazendo nesse mesmo dia um ano atrás"? Essa pergunta eu fiz a mim mesmo e a resposta foi: Vivendo um dos momentos mais marcantes na vida de uma pessoa. No dia 13 de maio de 2008, no corredor que dá acesso à sala de cirurgia para o apartamento onde estavamos, eu caminhava de um lado para o outro ansioso, aflito, e mais um monte de coisas que eu não sei bem como descrever. Até que às 08:02 daquele dia, eu pude então ouvir aquele som de quem estava muito irritado com alguma coisa, um choro que pra mim foi mais que o fim de um período de espera, foi o fim de uma angústia. E o começo de uma nova vida. Para mim e minha esposa, e literalmente, para a nossa filha que acabara de vir ao mundo. Um momento único sem dúvida, que eu não sei se absurdamente, tratei de classificar como "uma morte ao contrário". Porque, aquele silêncio, aquela sensação estranha de que algo mudou, era monstruosamente parecida. Tirando claro, o fato de que não se tratava de uma perda, e sim de um ganho de valor inestimável. E foi desse jeito que eu me senti naquele momento. Sem saber o que seria dali em diante. Porque, da mesma forma que a ausência definitiva de quem sempre esteve ali machuca, desespera...a presença daquela pessoinha ali na minha frente me colocava uma infinitude de incertezas e muito de insegurança. Porque dali em diante, eu teria uma vida pra cuidar. E assumi isso como nunca tinha feito antes. Hoje, um ano depois de sentir a primeira das milhares de emoções que ser pai ou mãe proporciona ao ser humano. Já comecei a ser "lapidado". E como um bom pai, fico bobo com o número de semelhanças que eu vejo (ou busco ver) naquela criaturinha. Que involuntariamente se apoio em mim. Confia em estar em meus braços e até abusa um pouco desse direito. Fazer o quê, já dizia o ditado "pai é pra essas coisas", não é mesmo. E a cada vez que a olha, vem em minha mente a certeza de que você é o melhor de mim, e o melhor de mim mesmo merece o meu melhor ainda mais. Pena a vida ser tão estranha ora generosa outras tão cruel, pena eu não poder ter estado ao seu lado esse primeiro ano. E não poder ter vivido esses primeiros momentos. Por isso digo e repito, parece que "tem coisas que só acontecem comigo"(mas isso é outra história) . Porém, não me desespero. Como disse, a vida é meio estranha e cheia de mistérios. Só sei que nem tanto pra você ainda, filha, porque não entende, mas pra mim, hoje é um dia além de se comemorar, também de refletir bastante. Saber que cada dia longe de você não terá volta, e que cada dia que está por vir, será completamente diferente do que passou. Ainda que isso tenha lá um ciclo. Aqui, mais uma vez percebe-se que tem coisas que são mesmo inestimáveis...apesar de estar longe por motivos ainda "materiais", sei que esses quase trezentos e dez ou vinte dias que passei distante de você não tem preço. Mas, se não vou poder recuperá-los, pelo menos isso me serve pra ver o quanto é importante estar presente. Espero ver você crescer de pertinho. E segurar sua mão quando sentir medo, lhe abraçar quando estiver com frio...ser o pai que você precisa. Talvez, minha querida, daqui há uns 12, 13 anos você possa ler isso. E ver que desde sempre eu estive aqui.
Feliz aniversário, filha.
Seu pai.

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