quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Mensagem de fim de ano...



Esta é uma mensagem natalina não muito convencional, eu diria.


Envolto naquela aura que a canção global da época sempre traz aos nossos ouvidos: "Todos os nossos sonhos serão verdade, o futuro já começou", e sempre, todos os anos, eu vejo a mesma história se repetir. E é incrível, mas, eu mesmo pude constatar isso em mim, e não gostei muito da primeira impressão que tive. "O natal é a época da hipocrisia generalizada"? Época na qual, uma vez ao ano o coração dos homens "amolece"?
Pra ser sincero, uma parte do natal eu comemoro como todo brasileiro (ou os 99,99%) faz: Muita bebida e muita comida, muito abraço e muito pres...opa, peraí, presente não. Pelo menos não na grande maioria das vezes. E isso tem um por que. Detesto a feira que é feita nos finais de ano em cima da data mais importante do calendário cristão (sim, eu sou um cristão - não sou dos mais praticantes, mas, acredito em Cristo), fazem um festival de compras, e a maldita mídia, que o diabo um dia a tenha, é grande colaboradora junto com esse sistema capitalista em que vivemos (juro, não vou entrar nesse mérito). Numa época em que deveríamos pelo menos tentar refletir, já que aparentemente nunca conseguimos entender e assimilar os ensinamentos do Filho de Deus, tudo que conseguimos fazer é comprar, comprar e comprar, e num gesto automático entregar pacotes a outras pessoas dizendo: "Feliz Natal". Então, começamos a comer e a beber. E depois, voltamos às nossas vidas vazias, crentes de que aquela "comunhão" nos aproximou um pouco mais de Deus. E, essa afirmação pode-se aplicar também aos lindos ovos de páscoa. Com todo aquele simbolismo de coelhinho e etc. Sinceramente, me pergunto se Deus realmente fica feliz com tudo isso. Imagino que ele fique lá do alto olhando pra nós, uns com a mesa farta, com aqueles presentes luxuosos e FÚTEIS, enquanto que na casa da "rua de baixo", nossos "irmãos em cristo", vêem a Ceia da novela das oito, num TV velha, com as barrigas vazias, quando muito, aquecidas por alguma coisa improvisada para a ocasião, seus filhos com aqueles olhinhos brilhando, como dois faróis na noite, sonhando com aquele presente de última hora, porque ensinaram que na noite de natal "o bom velhinho trará o presente pra quem se comportou bem durante o ano", tendo sua infância frustrada pela mau-aventurança de seus pais, que nasceram, cresceram e certamente morrerão pobres, pobres de marré desci. Neste natal, nossa família planeja um grande encontro, que chega a ser inédito até. Planejamos uma festa com bastante comida, bebida e música. Mas, lá no fundo do coração de cada uma dessas pessoas que estarão lá, incluindo muitos amigos, será mesmo que o "espírito natalino" estará presente?
E no seu natal, como será?
Vai pedir a Deus por todas pessoas?
Quando digo "todas", quero dizer as quase 8 bilhões ou mais de pessoas que existem no mundo. Vão se lembrar dos famintos?
Dos desabrigados?
Dos que não tem ninguém?
Ou vão deixar isso pra os pedidos de ano novo, vestidos nas suas "implacáveis e inabaláveis" vestes brancas?!!!


Desejo que o seu natal seja tão feliz e duradouro quanto tem sido até aqui. Desejo também que por um segundo, apenas por um segundo, lembre-se: O significado maior do Natal é a esperança de uma nova vida, de uma salvação.


"Então, é natal
E o que você fez?
O ano termina,
E nasce outra vez".

E agora: Reclamar ou Agradecer?


Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
Eu me chamo de excluido como alguém me chamou
Mas pode me chamar do que quiser seu dotô
Eu num tenho nome
Eu num tenho identidade
Eu num tenho nem certeza se eu sou gente de verdade
Eu num tenho nada
Mas gostaria de ter
Aproveita seu dotô e dá um trocado pra eu comer...
Eu gostaria de ter um pingo de orgulho
Mas isso é impossivel pra quem come o entulho
Misturado com os ratos e com as baratas
E com o papel higiênico usado
Nas latas de lixo
Eu vivo como um bicho ou pior que isso

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou... Eu num sou ninguém

Eu tô com fome
Tenho que me alimentar
Eu posso num ter nome mas o estômago tá lá
Por isso eu tenho que ser cara-de-pau
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maior do que a moral
Eu sou sujo eu sou feio eu sou anti-social
Eu num posso aparecer na foto do cartão postal
Porque pro rico e pro turista eu sou poluição
Sei que sou um brasileiro
Mas eu não sou cidadão
Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar
E o meu banheiro é a rua
E sem papel pra me limpar
Honra?
Não tenho
Eu já nasci sem ela
E o meu sonho é morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar
E eu não tenho perspectivas de sair do lugar
A minha sina é suportar viver abaixo do chão
E ser um resto solitário esquecido na multidão

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu num sou ninguém
Eu num sou nada
Eu num sou gente
Eu sou o resto do mundo
u sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu num sou ninguém

Frustração
É o resumo do meu ser
Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver
Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho uma chance
Deus! Me diga por quê?
Eu sei que a maioria do Brasil é pobre
Mas eu num chego a ser pobre eu sou podre!
Um fracassado
Mas não fui eu que fracassei
Porque eu num pude tentar
Então que culpa eu terei
Quando eu me revoltar quebrar, queimar, matar
Não tenho nada a perder
Meu dia vai chegar
Será que vai chegar?
Mas por enquanto

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu num sou ninguém
Eu num sou nada
Eu num sou gente
Eu sou o resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu num sou ninguém

Eu num sou registrado
Eu num sou batizado
Eu num sou civilizado
Eu num sou filho do Senhor
Eu num sou computado
Eu num sou consultado
Eu num sou vacinado
Contribuinte eu num sou
Eu num sou comemorado
Eu num sou considerado
Eu num sou empregado
Eu num sou consumidor
Eu num sou amado
Eu num sou respeitado
Eu num sou perdoado
E também sou pecador
Eu num sou representado por ninguém
Eu num sou apresentado pra ninguém
Eu num sou convidado de ninguém
E eu num posso ser visitado por ninguém
Além da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão da minha existência
Por quê que eu nasci?
Por quê tô aqui?
Um penetra no inferno sem lugar pra fugir
Vivo na solidão mas não tenho privacidade
E não conheço a sensação de ter um lar de verdade
Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo
Mas eu queria morar numa favela amigo
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela

Música: O resto do mundo/Gabriel, o pensador